quinta-feira, 28 de abril de 2011

O BRASIL EXPLICADO EM GALINHAS!
 
Pegaram o cara em flagrante roubando galinhas de um galinheiro e o
levaram para a delegacia.
 
D - Delegado
L - Ladrão
 
D - Que vida mansa, heim, vagabundo? Roubando galinha para ter o que
comer sem precisar trabalhar. Vai para a cadeia!
 
L - Não era para mim não. Era para vender.
 
D - Pior, venda de artigo roubado. Concorrência desleal com o comércio
estabelecido. Sem-vergonha!
 
L - Mas eu vendia mais caro.
 
D - Mais caro?
 
L - Espalhei o boato que as galinhas do galinheiro eram bichadas e as
minhas galinhas não. E que as do galinheiro botavam ovos brancos
enquanto as minhas botavam ovos marrons.
 
D - Mas eram as mesmas galinhas, safado.
 
L - Os ovos das minhas eu pintava.
 
D - Que grande pilantra.. (mas já havia um certo respeito no tom do delegado...)
 
D - Ainda bem que tu vai preso. Se o dono do galinheiro te pega...
 
L - Já me pegou. Fiz um acerto com ele. Me comprometi a não espalhar
mais boato sobre as galinhas dele, e ele se comprometeu a aumentar os
preços dos produtos dele para ficarem iguais aos meus. Convidamos
outros donos de galinheiros a entrar no nosso esquema. Formamos um
oligopólio. Ou, no caso, um ovigopólio..
 
D - E o que você faz com o lucro do seu negócio?
 
L - Especulo com dólar. Invisto alguma coisa no tráfico de drogas.
Comprei alguns deputados. Dois ou três ministros. Consegui
exclusividade no suprimento de galinhas e ovos para programas de
alimentação do governo e superfaturo os preços.
 
O delegado mandou pedir um cafezinho para o preso e perguntou se a
cadeira estava confortável, se ele não queria uma almofada. Depois
perguntou:
 
D - Doutor, não me leve a mal, mas com tudo isso, o senhor não está milionário?
 
L - Trilionário. Sem contar o que eu sonego de Imposto de Renda e o
que tenho depositado ilegalmente no exterior.
 
D - E, com tudo isso, o senhor continua roubando galinhas?
 
L - Às vezes. Sabe como é.
 
D - Não sei não, excelência. Me explique.
 
L - É que, em todas essas minhas atividades, eu sinto falta de uma
coisa. O risco, entende? Daquela sensação de perigo, de estar fazendo
uma coisa proibida, da iminência do castigo. Só roubando galinhas eu
me sinto realmente um ladrão, e isso é excitante. Como agora fui preso,
finalmente vou para a cadeia. É uma experiência nova.
 
D - O que é isso, excelência? O senhor não vai ser preso não.
 
L - Mas fui pego em flagrante pulando a cerca do galinheiro!
 
D - Sim. Mas primário, e com esses antecedentes...
 
Luiz Fernado Veríssimo

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